quinta-feira, 8 de setembro de 2011

RAINHA-MÃE E RAINHA-SOMBRA

(...) Mais que ninguém, Dona Amélia tinha consciência da imaturidade de Dom Manuel, na sua correspondência refere-o mesmo como «Petit Roi» - um «Reizinho» demasiado novo. A fatalidade do regicídio não o surpreende na menoridade por poucas semanas. Relembremos que a 15 de Novembro de 1889, O Infante Dom Manuel cumprira os 18 anos havia pouco mais de dois meses totalmente impreparado para reinar, é Dona Amélia quem toma a iniciativa de exercer o papel de Rainha-sombra.
É uma influência clara, Dona Amélia e Dom Manuel chegam a pousar juntos para as objectivas de repórteres internacionais sentados à secretária de trabalho. A Rainha redige os textos que o filho assina, lê despachos e emite as suas opiniões sobre os mesmos, preside mesmo a reuniões políticas.
É por conselho seu que o Rei se rodeia de políticos e conselheiros, os quais representam, de alguma forma, um recuo face às reformas introduzidas por Dom Carlos.
Regressa o rotativismo de partidos no Governo e deixa-se o caminho livre para os opositores do regime monárquico, que continuam a conspirar na sombra e a arregimentar seguidores. Na Câmara de Deputados as vozes contrárias e os ataques à Monarquia sobem de tom.
Ainda hoje nos surpreende, ao lermos as notas pessoais de alguns íntimos da côrte - como as do Conde de Mafra, médico da Casa Real e íntimo amigo da Família Real, ou as do Marquês de Lavradio, secretário do Rei Dom Manuel -, a apatia da vida quotidiana do Paço e a sua aparente calma, quando eram tão claros e óbvios os sinais de perigo para a Monarquia.
Nos primeiros meses, o Rei vai saindo do Paço para umas quantas paradas militares e visitas a quartéis, mas o seu grande banho de multidão procura-o na visita que faz ao Porto em Novembro de 1908. Nesse tempo, tal como em dias bem recentes, quando algum político carecia de demonstrar apoio popular, ía até ao Porto. A gente do Norte recebia bem, punha as colchas nas janelas e descia à rua em peso.
A recepção prestada pelas populações do Norte ao Rei Dom Manuel excede as melhores expectativas, o que leva a Rainha-Mãe Dona Amélia a rumar ao Porto. Chega mesmo a apresentar-se a seu lado nas varandas do Paço das Carrancas, para receber as ovações da multidão.
Curiosamente, e apesar da sua inequívoca influência, esta é uma invulgar presença da Rainha-Mãe junto do Monarca em cerimónias oficiais. Todas as deslocações de Dom Manuel nas suas viagens pelo país são efectuadas sem a presença de Dona Amélia.
Fonte do texto e última foto: Livro "Amélia Rainha de Portugal", de Eduardo Nobre

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